Tuesday, December 27, 2005


Meu encontro com Preto-Velho

Estava marcado pra quarta-feira, de noite, e sem hora prevista pra terminar, vamos aí então, ficamos esperamos no lugar na esquina na hora combinada e de repente parou o carro, fomos então de carona com um cara dirigindo que eu já conhecia de vista e troca de poucas palavras no campus e sua amiga na frente e atrás eu e mais duas pessoas, o lugar é bem distante, chegamos então no Centro de Umbanda, um tipo de galpão, logo na escadaria para minha surpresa, encontrei várias figurinhas marcadas do ciclo universitário inclusive um deles eu "trombei" no Daime (ah essa eu vou contar depois...), nos comprimentamos e fiz um comentário, -É um menu de religiões, estou passeando por elas. terminamos as escadas e fui me deparando com o mais variado tipo de pessoas, idosos, adultos, crianças, jovens, tivemos que ficar na fila pra pegar uma senha pra falar com um dos pretos-velhos!, isso demorou cerca de quinze minutos e ainda na fila passa uma mulher segurando um incensário e vai passando entre as pessoas que dão voltas e agradecem, também o faço, eu estava lá então tinha que passar por tudo, peguei a senha era 126, então escolhemos um lugar nos bancos que já estavam quase lotados, logo todo o centro lotou com gente até de pé, comecei a observar aquele lugar, tinha os bancos iguais a uma igreja normal, e para por aí, na frente um tipo de isolamento do altar, um grande "tatame" de azulejo, e o mais curioso era o altar, com ícones de variadas religiões, um altar cheio e colorido (sincretismo), quadros do preto-velho; então de repente aparece cerca de 30 pessoas vestidas de branco nesses "tatame" (negros e brancos, homens e mulheres), aos quais metade eram os que iriam incorporar e a outra auxiliar, começou uma música ritualística, e nisso e fui ficando espantado e com certo medo, era tudo novo pra mim, então começaram a incorporar os pretos-velhos fazendo caras e bocas muito estranhas, gritando, caindo e batendo forte palmas no chão, e claro, fumando charutos, é um espetáculo na frente de seus olhos, o clima é sério, então fez-se uma roda e todos os pretos-velhos e seus respectivos auxiliares se sentaram cada um com seus "artefatos" e começou-se a sortear os números, cada vez que eu ouvia cento e ..., já começava a suar frio, e demorou, fui fumar um cigarro lá fora e encontrei com uma colega do campus, confessei que estava com medo e ela me tranquilizando me disse que eles era "muito fofos", tá, voltei pra lá ancioso e de repente ouvi, cento e vinte e... três, ainda não, fiquei observando o ritual, não dava pra ouvir nada de tantos pretos velhos falando ao mesmo tempo, ás vezes alguns deles caíam no chão mas logo voltavam a se sentar, assustador ou fofo? Chegou minha vez, escutei "sento i vinte i seis", é agora, fui caminhando até a "porta", como estava de branco não precisei do colete, uma pessoa me auxiliou até o preto que ia me atender, e não era nem preto e nem velho! Era uma mulher branca, adulta com cerca de trinta e poucos anos loira de cabelo encaracolado e olhos azuis!!! Me sentei de frente pra ela? ou pra ele? numa cadeirinha e a auxiliar dela(e) era justo aquela menina com quem pegamos carona, os dois eram auxiliares (eu nem sabia), então ela(e) pegou na minha mão e ficou conversando com um vocabulário meio esquisito e com olhar disperso, ela(e) percebeu o quanto eu estava nervoso e me ajudou a relaxar, confesso que foi confortante, ela perguntou dos meus problemas, ah... e quem não tem problemas? mas a auxiliar dela queria que eu falasse algo mais, ficava interfirindo, (que saco!) como não falei nada de muito grave, ela ficou me dando vários conselhos, ótimos por sinal, um tipo de psicologia gratuita(?), não seriam todas essas religiões de massa isso? sei que quando me lembro de suas palavras eu fico muito bem até hoje, me emocionei, me intreguei ao momento e foi muito bom, no fim ela(e) me deu duas balas de iorgút e saí andando, ela(e) me disse pra voltar, mas até hoje não voltei, voltarei se um dia eu tiver vontade, e assim que saí as pessoas com quem estava queriam saber o que tanto conversei com ela(e), mas que atrevidos!! Pegamos carona com um professor universitário e uma jornalista, no caminho fui pensando se tudo não passou de um teatro e cheguei a conclusão que isso não importava, o que importava mesmo foi o que senti naquele momento, a ciência não tem sentimento, fui embora e durmi tranquilo, o curioso é que eu esqueci de boa parte do ritual, e de boa parte do que conversei com o "preto", tudo isso durou cerca de quatro horas, meses depois foi com um amigo num mercadinho num bairro e quem estava no caixa?? o preto-velho!!! ou melhor aquela que me atendeu! que surpresa foi, percebi que ela me reconheceu mas nem me comprimentou, e nem eu!
Fim.
Foto: Bonequinho do preto-velho num quintal em meio a muitas quinquilharias.
Até a próxima...